sábado, 27 de agosto de 2011

Me consumindo

Nadei nos segredos mais secretos para que surgissem intimidades e palavras inusitadas.
Alcancei os toques mais sensíveis com a esperança talvez de proporcionar o que jamais teria acontecido.
Esgotei o todo para depois me livrar de uma saudade inusitada e sem sentido.
Fraquejei ao extremo para fortalecer o tédio que corrompia a cor.
Naufraguei em meus copos d'água que boiavam sem nexo e cheios de lamúrias.
Reguei com prantos os confusos pensamentos inimagináveis que pareciam ser coerentes e perturbadores.
Pisoteei a falta de desejo reinventando um contato desejado.
Esperei o momento certo para fazer coisas erradas.
Amanheci diante do infinito para refazer o contorno das bases.
Arrebentei os laços como uma onda alucinada que estaciona no raso a sua frieza viciante.
Adiantei prazeres peculiares para satisfazer sorrisos contagiantes que se tornaram prescindíveis no final.
Caminhei por ruas sem saídas e cheias de curvas que me impediam de seguir adiante ou sequer de voltar atrás.
Penetrei em noites chuvosas para torná-las aconchegantes e nuas.
Decifrei senhas invisíveis escondidas nas profundezas dos limites.
Desbravei uma terra sonhada em busca de um voo e me deparei com uma realidade crua com folhas jogadas ao vento sem rumo e sem calor.

Nunca desejei tanto a dor da saudade de alívio que vive aprisionada nas carícias do medo que existe em mim.


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Lacunas

Completas são aquelas linhas desestruturadas que não se findam com pontos, e seguem construindo o parágrafo sem que regras e normas limitem seu conteúdo e estrutura. São linhas imperfeitas, obscenas, imorais, odientas e imprevisíveis.

sábado, 20 de agosto de 2011

Uma breve viagem

Leve vento leve
que desmancha pelo tempo
em calor e poesia

Leve, vento leve
esse amado mais desalmado
que o mundo possa ter inventado

Leve vento, leve
esse outro eu
que toma tudo que é meu
me lembrando como já sofreu

Leve, vento leve
a memória do meu coração
que atormenta quando está no céu
e que me sufoca quando volta para o chão

Leve vento, leve tudo aquilo que não eleve

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Expectativas ao vento

Acordei alguns dias pensando o que seria do próximo dia que estava por vir.
Minhas perguntas ecoavam em meus ouvidos sem que ruídos externos interferissem na resposta ao nada.
Nada de resposta.
O dia que acordava era insignificante, pois a ânsia pelo depois atrapalhava.
Mas o que vem depois?
Eu não sabia, nem ninguém que eu procurava sabia também.
Outros nem queriam saber.
E hoje, o que me importa?
Não sei, pois ainda estou na agonia de querer saber o que vem amanhã.
E se for nada? E se for tudo? E se o tudo que vier for nada?
Antes nada do que o pior.
Aliás antes o pior do que o nada! Nada aumenta minha ânsia pelo tudo que está em algum lugar.
Tudo que simplesmente não sei se vem amanhã, ou depois, e depois, e depois, e depois.... De amanhã!
E o provável é que não venha, porque eu sinto que não sinto falta de muitas coisas.
Mas a ânsia me toma, porque eu sinto que sinto falta de muitas e muitas outras.


segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Autofagia

Despertar de um transe profundo.
Criado solitariamente com o próprio corpo e mente.
Cair em si depois da busca pelo impiedoso.
Permeabilizar eternamente o que traz a visão.
Lutar bravamente, aos prantos, por aquilo que será degenerado pelo tempo.
Sentar à beira da cama, olhar os pés e não ver o chão.
E ter a agoniante certeza de que a reciprocidade já não passa mais de um pretérito imperfeito e vagabundo.
O baque que trazemos para nós mesmos após a interrupção de uma condição de vida constante e cheia de costumes é traumatizante, é autofágico.
O importante é saber se regenerar, e lembrar que:
"Tudo passa, tudo sempre passará".