quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Inferno Astral

Me pego afundada em uma plena consciência exacerbada que torna a real realidade perceptível aos meus olhos e ao corpo da forma mais nua possível.
Sem roupas, sem armas, sem barreiras e sem sentimentos, talvez.
Enxergo o que há por trás e engulo à seco com frieza aquilo que congela mais que a minha carne.
Congelo-me, por inteiro.
Falta expressão ou colorido.
Os meus olhos como vidros se estilhaçam em mil partes heterogêneas refletindo a perda do nexo e do sentido.
Calamidade, falta de vergonha, falta de solidez.
Não tenho mais "sentidos", por tanto não me vejo mais, mas me imagino como uma estátua sem mãos, sem tato, sem visão, sem ruídos, sem audição, sem ecos, sem cheiros, sem perfumes, sem gostos, sem nada.
Sinto-me como um soldado de pedra gelada seguindo a inércia da vida.
Sem mais vontades, sem vaidades e sem virtudes.
Penso que posso ser igual.
Pelo menos ainda penso, mas não é o suficiente para despertar o meu conforto.
Petrificada, abandonando a forma humana, penso em desistir, mas quando penso em desistir quer dizer que penso em parar de pensar.
Fuga. Bingo!
O caminho mais fácil. Sigo o fluxo.
Uma força de aproximadamente 5 Newtons é exercida sobre a minha capa, fazendo-me viajar por entre artifícios artificiais que compõem vidas mesquinhas e ignóbeis.
Viajo com um certo mal-estar por um mundo letárgico.
Acordo.
Retorno de um surto.
E agora inconsciente, me vejo "vivendo", bebendo, dançando, gritando, mostrando, gargalhando, comprando, chupando, batendo,pegando,olhando, beijando, rebolando, desfilando, malhando, gastando...
Coma profundo em um mundo imundo.
Leviandade, putrescência, azedume, melancolia. Melancolizar.
Neutralizo-me.
Sinto-me intempestiva de maneira desesperançosa.
Peço a Têmis que me ilumine, e peço ao tempo que me acompanhe.
Sento para escrever, é o que posso, e bebo um copo de Champanhe.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

17 de outubro de 2011

Um ventre celestial elevado no infinito, a flutuar como a representação perfeita de um momento fértil que resultará em brilho, luz e poesia.
Magestosa em meio a uma noite ignota.
O reflexo natural e nú da sensibilidade doce e despida.
Forma simultaneamente incerta, absoluta e divina.
Olho iluminado pela intensidade do belo originalmente puro e reluzente.
Obra-de-arte feita por mão nenhuma, por pessoa alguma.
Presente inesquecível, sensível e visível.
Ela me calou.
A Lua.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Que seja doce!

Quando aquelas palavras rudes adentraram a minha epiderme, o interno se desfez e o inferno se consolidou.
Pudia ter sido de uma vez, mas foi de maneira progressiva e lenta, para ficar a certeza de que tudo em fim seria destruído.
Enquanto eu ardia e queimava no calor intenso da dor, outros brindavam a vida e seus caminhos promissores.
Enquanto as feridas se abriam e eram temperadas com sal, do outro lado a felicidade fugaz imperava, momentaneamente.
Cortes, feridas, dores e morte.
Morte.
E agora Vida.
Agora chore enquanto eu rio, caia enquanto eu subo e me peça perdão por eu não saber o que é o amor e não ter mais atenção.
Lave a minha casa e o meu chão com suas lágrimas fingidas e instantâneas, e esprema o pano até a ultima gota.
Impere, assuma o poder e suba no picadeiro que eu estarei lá a assistir e a me divertir. Prometo aplaudir ao final do show e do estardalhaço.
Implore um sorriso, peça um abraço e sonhe com um filho. Sonhar é preciso!
E enquanto você prova esse sabor amargo, eu grito: Que seja doce! E o escorpião é doce!
"E digo sete vezes, que é pra dar sorte."
E depois disso esqueça que eu existo. Se você conseguir.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Um café

Visivelmente elas pareciam estar de sacanagem comigo ou vagando por aí, mas me atormentavam, tomavam e rasgavam. As palavras.
O sono lutou e relutou contra o meu corpo cansado e revirado que estava desprotegido, e foi incapaz de tomar-me por qualquer espaço de tempo ou por qualquer Espaço no Tempo. Ele jamais venceria.
E a minha boca falante que se comportou de maneira assustadora não brilhou mais que as combinações de letras transcendentes que davam cor aos meus olhos. Reflexões. Calei-me e ao mesmo tempo falei. Não ouvi mas escutei.
Algo explodia de maneira incerta que intimidava a voz. Ou talvez a voz estivesse em seu lugar exato. Ou talvez a voz provocasse o silêncio.
Não sabia se era o conteúdo ou a cafeína que provocava uma palpitação sufocante, uma agitação cerebral e um sorriso no canto da boca. Não sabia se era o vento ou aquele ar que me causava aquele frio angustiante que precede a explosão da sensibilidade.
Estou tentando acertar o desacerto causado por informações sentidas e despejadas.
Talvez eu consiga, após outra dose de café.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

SINTOnia

Pra que invadir desse jeito
abrindo as portas, limpando a sala
me atiçando e debelando meu peito
Preciso de uma explicação
talvez esse seja o melhor momento
ou certamente não
Não entre de novo assim
dizendo que não vai sair
e que a minha dor chegou ao fim
Pare de me fazer rir
porque está despertando algo
que eu não sei se quero sentir
Estou me vendo quase sem saída
não sei ao certo se quero tua presença
mas não quero nem pensar em tua partida
Isso me causou uma grande confusão
pois agora te quero aqui comigo
e você me tem na mão

sábado, 1 de outubro de 2011

Leve agitação do ar

Lá vai ela por suas andanças mundanas e desumanas e por vai e vens que só vão.
Dessa vez ela estava sentada, ou deitada ou dançando solitariamente e freneticamente em uma vitória-régia colossal que boiava por um rio sem margens.
Pescoço pra um lado pescoço pro outro e o vento roçava sua pele e acariciava o seu êxtase sem fim.
Seus cabelos dançavam conforme a sua música interna que poucos seriam capazes de ouvir e apreciar por não prestarem tanta atenção assim em rios, talvez.
As águas pulavam enquanto ela cantava sua poesia, como se estivessem aplaudindo aquela louca alucinada.
O caminho da planta desenhava involuntariamente uma obra de arte sobre aquele rio vibrante e uma mensagem era deixada propositalmente. E subliminarmente? Para alguns não.
Isso é o que se necessita.