quinta-feira, 23 de junho de 2011

Divina Solitude

Diferentemente da noite passada que o sol não deu as caras, hoje fiquei cega com tanta luz.
Não era necessário olhar sobre as janelas e nem perturbar as cortinas para vê-lo ou senti-lo.
O sol, ao qual me refiro nao depende de hora, dia, nem lugar para dar o ar da sua graça.
Comigo mesmo, foi a noite, por entre minhas paredes amadas que circundavam um deserto maravilhoso e até sedutor.
Paredes queridas! Paredes verdadeiras e singulares!
Ah minhas paredes! Nos entendemos tão bem...
Estava sentindo falta dessas paredes e desse deserto mágico que reflete a minha sombra a todo momento, deixando-a visível aos meus olhos e arrancando-me sorrisos orgulhosos de maneira involuntária!
Sorrir sem nem sentir! Sabe como é? É tão leve, é tão verdadeiro...
Naquela noite eu troquei muitos olhares penetrantes, firmes e cheios de certeza com aquelas paredes lindas. Elas agiram com reciprocidade e me presentearam com um solo, fixo, forte, indestrutivel e insolúvel às minhas lágrimas.
O sol veio para clarear minha visão e me fazer enxergar que minhas paredes me bastam e o meu deserto me preenche.
Para me mostrar que o meu chão surgiu a partir das minhas paredes, construídas por mim, impregnadas com o meu Eu.
Meu verdadeiro Eu que estava viajando! Mas agora está em solo.
Naquela noite, tudo que era "líquido" se foi janela a fora. 
Sobrou apenas o que era sólido. 
Eu não reclamei, porque aos limites das minhas paredes sou eu quem mando, convido e expulso.
Então nada aconteceu por um acaso, e sim por uma vontade que estava escondida e agora escancarada.
Um novo encontro com uma nova pessoa cheia de traços antigos e nem um pouco discretos.
Traços que arrancaram muitos olhares enquanto Eu me fingia de desentendida.
Mas Eu via tudo!
Provei gostos muito amargos até chegar a esse solo.
Mas hoje essa vontade de permanecer nesse solo e nesse deserto, é o meu combustível.
Se o combustível faltar, o sol vai embora e o solo se rompe como nos sertões.
Mas tenho consciência que potencial não me falta para que esse combustível não se torne escasso mesmo que o seu preço se torne exorbitante.
Eu vou ficando por aqui, preciso correr pra minha nova construção que está à minha espera.
Hoje ainda vou me deitar nas areias do meu deserto para tatuar anjos e ainda preciso meditar com minhas paredes, elas estão sempre à minha espera, como ninguém mais.

domingo, 19 de junho de 2011

Fraqueza

Puta flor envenenada, que por entre a vasta beleza da natureza, enganou-me e tirou-me sangue!
Espetou-me sem dó nem piedade!
Perfurou-me as entranhas, que até então eram virgens!
Era linda, enquanto estava distante!
Mas tornou-se repulsiva!
Merece ser julgada e condenada!
Murcha, sem cor nem oxigênio!
Enganou-me com seu aroma!
Ai, que perfume!
Cegou-me com sua beleza indescritível e incomparável!
Flor maldita e magestosa!
Erva daninha, praga da pior espécie!
Era coisa de Galápagos!
Mas sua beleza tornou-se asqueroza.
Só porque encostei o dedo em suas raízes.
Raízes em 'estado de putrefação' e sem procedência.
Raízes perdidas no calor dos finos grãos soltos a mercê dos ventos.
As hemácias que jorraram do meu corpo machucaram minhas visceras e me cicatrizaram.
O vermelho que passeia pelo meu corpo, antes um furo na ponta do dedo, agora uma hemorragia.
Espinhos com substância jamais vista antes.
Ela ainda me corta, dilascera, arrebenta, devasta e me vicia.
Não mata, mas escraviza.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Questionamento momentâneo

O que é o amor? Esse 'sentimento' tão idealizado e divino, que dizem só fazer o bem.. Será mesmo? 
Se esse tal de amor SÓ fizer bem, então a escassez dele em meu planeta, em meu mundo, é extremamente alarmante.. É quase um paradoxo, mas é a abundância de escassez, é a existência da inexistência!
Mas se algum resquício desse amor for encontrado, largado, no meio do caminho, concluo que ele pode revelar-se em faces distintas... Ou melhor, em mil faces completamente distintas mas complementares... Em pétalas leves e exuberantes que atrai qualquer olhar pelo brilho da cor ou em caules recobertos de espinhos pontiagudos e venenosos...

Às vezes sentimos tanto essa coisa que acordamos em berço de ouro, de Rei, de Rainha.. Não pela riqueza do material, não pelo ouro propriamente dito, ao pé da letra.. Mas pelo esplendor de algo que sentimos e é simplesmente envolvente, confortável, e trás a sensação de completude! É como olhar a noite mais bonita do ano e ter a oportunidade de alcançar a lua, e de quebra ainda ganhar uma estrela para compor o seu quarto! É como se o nosso corpo ficasse transparente e brilhasse ao mesmo tempo! É como se os olhos fossem programados para enxergar apenas aquilo que é maravilhoso tornando o sorriso constante e involuntário... Ir a qualquer lugar, agrada! A energia é tão positiva que nossa luz interior se externaliza e irradia, fazendo com que surja um brilho tão intenso capaz de cegar. É como passar o dia mergulhando com golfinhos e colhendo flores em um belo parque.. (bucólico né?)

Mas de repente dormimos, apenas dormimos, nada mais aconteceu além do sono, adormecemos e...
E ao acordar nos encontramos em um lugar escuro, sem chão, sem céu, sem mar, sem borboletas coloridas, sem água! É praticamente um local onde a possibilidade de sobrevivência é nula! O lugar onde a dor impera... Ou o que impera é mais uma das faces desse amor 'divino'!
Não tem oxigênio, a respiração é complicada, é como se você passasse por uma metamorfose e virasse um ser 'quase procarioto', um ser simples, tão simples, que a 'significancia' desconhece. É como jogar ácido sulfúrico no peito, e deitar-se, para esperar a corrosão de tudo.. Ou do nada! Arde e dói! Fere e penetra pelas entranhas da pele, da carne, do corpo, do ser quase desumano. Perto disso, morrer é simples demais!

Por que algo tão traiçoeiro às vezes parece tão essencial? Por que foi inventada uma coisa que te dá uma rasteira e faz com que você sofra um traumatismo craniano, e ao mesmo tempo essa coisa te revigora e te ressuscita!

Até onde se vai por esse amor? Quanto é preciso morrer e matar?

Por que as vezes, para conhecer o amor é preciso abdicar do orgulho, do ego, de nós mesmos? Aliás, será que isso é amor?O que diabos é o amor?

É algo ilimitado, indefinido, que se sente. Não tente me explicar, não tente argumentar, não me venha com raciocínios lógicos que é perda de tempo! Estou presa na incompreensão!!!!


 
Vai além das teorias dos sábios pensadores conhecidos e desconhecidos.. É tão imenso que pode tornar minhas palavras ridículas e até incompreensíveis como deve ser um elefante para uma formiga.

Estou com medo do sono chegar... Mas por outro lado, também estou doida para acordar.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Reflexo e Reflexões

Pelos reflexos do espelho vejo tudo que passou com uma sensação de melancolia e nostalgia.
Em pé, paralizada, inerte, sem piscar, com a testa relaxada e a boca meio aberta, me vejo, apenas me admiro em frente ao espelho.
A vida como marca d'agua sob a superfície plana parece-me tão simples e bela.
As lágrimas queriam ultrapassar a barreira forte que parecia intransponível. Elas venceram e se libertaram.
Elas me libertaram.
Amor, prazer, êxtase, alegria, paz, tranquilidade... Tudo misturado naquele reflexo.
Me senti saudosa e orgulhosa.
Tudo que foi vivido, simplesmente não foi em vão.
Que alívio!
Me enxergo diante do espelho, em lágrimas, pois me encontro rompendo meu cordão umbilical com a vida que se passou. 
Está na hora de deixar o passado ir.
O que foi vivido foi somado! Mas hoje eu sinto necessidade de multiplicar.
Estou me encontrando e o passado me faz rir e soluçar.
Esse momento é meu. Não vejo, não escuto, nada além desse filme.
O cordão me prende ali, mas hoje eu decidi voar.
Preciso saber o que existe atrás das montanhas.
A Terra não é mais o suficiente para mim.
Experiências passadas abriram caminho pra novas experiências.
Eu me reencontrei, eu me reinventei e agora eu me reconheço!
Quero mergulhar em novos ares.
Fui me desgarrando aos poucos e hoje criei asas.



Passado: Não queira mais me segurar e se a vontade surgir, mate-a.


Estou alçando vôo.

sexta-feira, 3 de junho de 2011