segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Insensatez


Sinto o gosto da água que escorre em meus pensamentos e transita por entre minhas portas entreabertas de um eu infeliz. Sinto o aperto e a dor da desesperança que habita um corpo e faz recordar o que não se diz. Sinto falta da mudança de temperatura que me atormentava sem avisos e machucava o juízo de uma pessoa inconstante. Sinto falta do meu mundo quando era só meu e a qualquer hora tinha um amante. Sinto falta das carícias e das malícias que recheavam os meus segundos. Sinto falta até dos meus dedos quando se entrelaçavam às mãos alheias de um vagabundo. Sinto falta da segurança dos olhares refletidos. Sinto falta dos gostos parecidos. Sinto falta da intimidade, da verdade e do que arde. Sinto falta, mas já é tarde. 
Sinto falta de sentir.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Corrosão

Agora o ódio transborda e passeia pelo corpo cegando todos os resquícios de razão. O lado gentil se resguarda dando lugar às lembranças que rasgam o peito e sangram a alma. As lágrimas não são choradas, são involuntariamente colocadas pra fora como um refluxo das memórias desastrosas de uma vida odienta e decepcionante. É preciso apenas estar vivo para sentir o gosto do chão que beijamos em função de uma rasteira da vida ou da pessoa mais próxima. É preciso apenas estar vivo, a vida ensina isso. A quantidade de inescrupulosos que nos rodeia como sangue sugas aproveitadores querendo tirar proveito de cada migalha não me espanta mais. São infinitos desalmados superficiais que tentam a qualquer custo impedir que você siga em frente e têm o poder de interromper o seu fluxo de energias limpas repelindo qualquer positividade que tente se aproximar. É como se eles se revigorassem a cada vez que empurram alguém do penhasco e só sossegam quando a queda é fatal. São pessoas desprovidas de olhar, como caveiras que possuem dois buracos negros dissimulados no lugar da visão. O pior é que elas só se satisfazem quando provocam sua corrosão interna como um copo de ácido sulfúrico ingerido lentamente,tocando minuciosamente cada átomo que te constitui. A destruição é total podendo se transformar em uma doença incurável e degenerativa. Eles não sabem parar e as feridas provocadas não sabem deixar de doer. O sangue arde e pulsa como se um veneno corresse nas veias mas a experiência nos ensina a ter a malícia e a frieza necessária para encará-las como obstáculos que parecem ser tenebrosos mas na verdade são passageiros, como tudo na vida.

sábado, 16 de junho de 2012

Finjo, que finjo, que finjo.

Não quero dizer não às vontades que o meu corpo grita.
Seria inadequado bloquear os desejos intrínsecos à minha liberdade.
Mas sei me transformar em um paradoxo, disfarçando muito bem tudo aquilo que me arde.
Naquela noite chovia, chovia muito mas era eu quem fazia a tempestade.

Sorrateiramente as mãos tímidas começavam a escorregar pelo meu corpo até chegar em minha cintura. Obviamente o meu jeito não me deixava demonstrar que estava percebendo aquelas atitudes invasoras, mas um sorrisinho sorrateiro que me escapou no canto da boca transmitiu a segurança que ele precisava para ir além. Seus desejos já estavam explícitos, o que pra mim não era surpresa nenhuma. Trocamos olhares, compartilhamos vontades e andamos na chuva para que ela molhasse o meu corpo quente.
Olá César!

De maneira proposital fingi não perceber todos os pensamentos que me despiam naquele ambiente e então disparei um olhar aparentemente singelo para quem avistava de longe, mas totalmente direto e  cheio de pecados para aquele que sem disfarces me queria. A timidez passava longe dali, e nós dois nos desejamos a cada palavra que trocamos. Na verdade eu inventava o meu desejo. Correspondi aos gestos de forma provocante e criava muitos outros que o conquistavam. Gestos propositais transmitidos ao acaso. Ele me perseguia, ou talvez perseguisse aquela sexualidade que eu não sabia disfarçar.
Olá Paulo!

Eu provocava, olhava e fingia não olhar, sorria e deixava claro que não era pra ele. A vontade caminhava comigo, junto a cada passo que dava, trocando as pernas sobre o chão que também me olhava de um ângulo privilegiado. Dava as costas contra minha vontade quando percebia uma sintonia, uma reciprocidade. Dessa vez nenhuma marca, mas meu pensamento foi longe.
Olá...





segunda-feira, 28 de maio de 2012

Os ventos que sopram da minha janela

Era noite.
Se chovia? Chovia sim, e muito.

Não sei ao certo porque te escrevo. O fato é que já não consigo controlar as minhas mãos que digitam sem parar tentando acompanhar o meu raciocínio cardíaco. Escrevo por uma vontade bêbada que surge em meu corpo e me torna inconsequente diante dos fatos. É uma vontade que me toma e ao mesmo tempo me embriaga. Às vezes o excesso dessa vontade é tanto que se eu não despejá-la em um lugar qualquer, o meu peito se rompe, como uma estante de livros que não consegue mais suportar o conteúdo que lhe sobrecarrega. Se qualquer pessoa soubesse sobre essa vontade, que já não guardo mais, me chamaria no mínimo de louca. Se suspeitassem sobre a desarmonia interna que me é causada quando surge essa vontade, que é constante, me internariam. Digo que neste momento o fato de eu estar te escrevendo é muito mais pela falta de controle que pela magnitude deste sentir. Neste momento não possuo um pensar-sentir. Apenas sinto, e é por isso que não consigo explicar e nem fundamentar os motivos pelos quais te escrevo. Esse meu estado do "não pensar-sentir" é comum. Vem da água da minha água, vem da essência da minha essência que está atrelada a sua. Te escrevo porque você me deixa assim, irracional e sentimental, o que pra mim não é nada fora do normal. Te escrevo porque a vontade me ultrapassa, então estas linhas vêm de dentro pra fora. São palavras que surgem sem parar e rimam com a leveza do que brota em meu interior. São linhas que se estruturam porque conteúdo não me falta para espraiar esta confusão interna. Talvez eu escreva porque sentia falta desta revolução, ou porque apenas sinto uma vontade espontânea.
Talvez eu não precise me explicar tanto, e as coisas não precisem fazer tanto sentido.
Talvez eu escreva porque eu sei que você me quer.
Façamos a chuva.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Aquela Varanda III - Fechando as portas

E numa madrugada indecisa os corpos não se tocavam, mas conversavam entre si. Era toda aquela energia de sempre que atraía cada átomo dos seres de maneira urgente. Saudade.
O que se passava lá fora era confuso demais, muita gente fora da sintonia que existia apenas entre os dois, ninguém além deles tinha noção da presença daquilo que ardia. Porém o que importava era o que se passava dentro, que era mais confuso ainda, ou não. Dentro dos pensamentos e sentimentos desejosos e secretos que circulavam por todos os cantos proibidos. Lá dentro existiam quereres recíprocos entre si. Realmente isso era claro já que os dois haviam abandonado responsabilidades e compromissos planejados apenas para seguirem a urgência da agonia que batia no peito e para sentirem aquela presença por singelos minutos patéticos.
A clareza dos sentimentos que estavam consumados incomodou o juízo dela, que resolveu ir embora para voltar em algumas horas.
O resultado da volta, como vocês já devem imaginar, foi a varanda. Não tenho como falar em amor e prazer sem falar da varanda. O êxtase acontece lá. A varanda é o clímax.
Outras palavras foram trocadas naquele lugar onde tudo acontecia. Acontecia de tudo.
Poucas palavras, alguns olhares e muita energia. Estavam entregues.
Não lembro mais como foi o começo deles dois, só lembro que eles não começaram pelo começo. Já era amor antes de ser. E sempre foi assim. Mas naquela madrugada não foi. Aliás foi, durou pouco. É foi isso, acabou, teve início, meio e fim.
Não tenho mais tanto para escrever como eu pensava que pudesse ter, pois tudo aconteceu conforme o roteiro, foi igualzinho, mas na hora da despedida tudo foi diferente. O coração não bateu, a vontade não insistiu e o sentimento não persistiu.
Em um curto espaço de tempo um sentimento desorientado tomou conta das ideias desacertadas que começaram a fazer sentido. A varanda não fazia mais sentido- pensou ela. A doce lembrança de um momento maravilhoso que se fez por tanto tempo, se desfez naquele momento.
Ele ainda vive naquela varanda mas ela saiu voando de lá.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A sala

Normalmente todos a chamam de sala de estar, eu a xingo de sala do mal-estar. Se na varanda me sinto livre para realizar os meus desejos mais vorazes, nesta me sinto perturbada, insegura, invadida, fraca e inconsequente. Talvez inválida até. A sala me causa angústias, dúvidas e me traz perguntas que muitas vezes fogem ao meu conhecimento. A sala devora a minha energia e arranca o meu chão fazendo com que eu me sinta como um animal perdido em uma triste solidão. Na sala sou forçada a ser só, e da maneira mais dolorosa e fria. Em um espelho, não consigo ver nem o meu reflexo, não vejo nada, pois a sala é vazia. O coração clama por um calor, mas a emoção foge, o peito explode e a mente se perde em devaneios e surtos de loucuras malvadas e sombrias. A sala desperta a vontade de chorar, de desabar e de ter alguém pra te levantar, mas na sala não tem ninguém. Na sala você sente a necessidade de um abraço, e enxerga a sua memória como um filme triste diante dos seus olhos, com a seleção das piores cenas dos capítulos da vida. Ou pior, da sua vida. Na sala você encolhe, você é sugado e humilhado. Lá, as palavras que mais te ferem estão separadas em frases soltas que te atingirão de maneira certeira, como uma flecha que crava no coração e faz sangrar.
Todos vão até a sala, o caminho é fácil, o difícil é sair dela mesmo que a porta esteja aberta.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Aquela Varanda II

O coração palpitava como uma bomba relógio em contagem regressiva para a explosão.
Os suspiros profundos surgiam ao passo que os olhos apertadinhos sentiam aquele vento delicioso que roçava a sua pele macia e quente. Era noite e a escuridão do céu era convidativa, instigante e atraente. A sintonia entre corpo e natureza se estabeleceu, quando aqueles cabelos esvoaçantes começaram a dançar com aquele curto vestido de seda transparente que descansava sobre seu corpo ao som da orquestra maior da ventania. O sorriso daqueles lábios colossais surgiam discretamente de maneira atraente a deixar a atenção voltada para a sensualidade que estava em toda a face, em todo aquele corpo. O vento, as finas gotas de chuva, a escuridão, e o infinito daquela varanda sossegaram os pensamentos escandalosos que preenchiam aquela mente maliciosa, dando espaço para um momento íntimo. Com as pontas dos dedos geladas, ela começou a acariciar as maçãs do rosto que pareciam apetitosas a qualquer um que tivesse o prazer de admirá-las. Com movimentos suaves, seus dedos escorregaram para a sua boca que entre os intervalos de carícias abusavam de uma leve e suave mordidinha atraente. Ao passear por aquele infinito palpável, suas mãos correram para sua nuca que parecia estar mais aquecida, e com um breve calor no peito, suas unhas cravaram no pescoço de maneira suave a puxar aqueles fios perdidos de cabelo que compunham toda aquela beleza. As mãos aqueciam ainda mais aquele corpo quente, com movimentos contínuos que perpassavam por todas as curvas salientes daquela mulher. Naquele momento ela não se importava com outra coisa, a não ser com seus desejos repentinos que foram despertados pela sensualidade daquela noite interminável em sua varanda aconchegante. Os ventos soavam mais alto e o clímax se aproximava. As mãos se apertavam e circulavam por todos os espaços. A chuva anunciava a tempestade. E com um breve sorriso e um longo suspiro, começou a chover de verdade.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Meu tempo de liberdade

A vida me diz que é tempo.
Tempo de ser e só, tudo aquilo que eu posso ser só. É hora de olhar pra dentro como nunca antes e sentir o elo maior que existe entre corpo e alma. E não foi o acaso que me permitiu ter a sabedoria de escolher e saber que é o meu tempo, foram as cicatrizes. Meu compromisso agora é comigo.
Não quero amarras e nem muitas explicações. Não quero me preocupar com respostas, já ando muito ocupada questionando as minhas.
Quero o dia, a tarde e a noite, nas horas que eu quiser que sejam!
Tudo aquilo que de alguma forma fere esse meu querer, me repele.
Sou livre! Dona dos meus desejos e vontades.
E agora é o que eu quero.
Isso basta.

domingo, 4 de março de 2012

Aquela Varanda

Os ventos cantavam ao passo que o céu mudava de cor.
Tardava o dia e eles ainda estavam ali naquele quarto.
Eis o questionamento que todo casal faz quando a maré do mar de rosas está baixa: "O que será de nós dois de agora em diante?"
A final, os meses passaram, a paixou queimou, a conversa é boa, o beijo tem química, o sexo ainda satisfaz, mas e aí? Isso não é o suficiente pra manter uma relação.
A necessidade de construir sempre chega quando a rotina se instaura.
Então as dúvidas tomam conta dos juízos que passam a analisar friamente as situações sem dar espaço algum à emoção. O medo de um romance sem futuro.
Os dois resolvem discutir a relação e sentados frente à frente, cada qual com suas ideias já formadas. O silêncio diz que eles estão a um passo do término, os olhares se entendem e eles parecem frígidos e talvez sem jeito.
Como era de costume quando eles iam cnversar, ela estava sentada na cama, enrolada em um lençol, e ele a sua frente na cadeira com sua toalha presa à cintura.
"Acho que precisamos conversar..."
Talvez fosse mais fácil se ele se levantasse logo, tomasse seu banho e fosse pra casa, mas algo o prendia ali. A vontade que ela tinha de facilitar as coisas só se sustentava até o momento que ele demonstrasse que também concordaria com o afastamento, porque é depois que o outro concorda que a gente começa a se questionar se fizemos a coisa certa, e ela não é bem diferente disso.
Frases soltas, argumentos falhos, colocações sem sentido, falas contraditórias, e o dia ía caindo.
A decisão é tomada, e enquanto ele vai se arrumar, ela vai até avaranda fumar um cigarro.
A chuva começa a cair, o vento bate mais forte e as folhas chacoalham reproduzindo um som delicioso para um momento de reflexão. As gotas de chuva começam a pingar na ponta de seu nariz, e o frio chega.
Sabe aquele frio que congela o corpo aquecendo o coração? Foi o que ela sentiu ao estar nua naquela varanda, com aquele tempo chuvoso e só. O coração começava a apertar, e a paixão ía queimando aos poucos ali dentro do peito, era a saudade do abraço forte de um certo alguém que estava ali há poucos metros de distância dela. Mas o orgulho falava mais alto e mesmo com poucas lágrimas já escapando que por sorte se confundiam facilmente com as gotas de chuva, ela continou a fumar o seu cigarro enquanto via aquele céu acinzentado.
No último trago, ela toma um susto ao sentir algo nas laterais de sua cintura e quando menos espera ele já está ali atrás, com seus braços envolvendo seus quadris e seu queixo sobre o seu ombro, como um encaixe perfeito. As faces se tocam de lado e os sorrisos aparecem, mais uma vez eles pensam a mesma coisa: "Que tolice!" Pensavam que pareceriam mais fortes se tomassem aquela decisão passando por cima de um sentimento verdadeiro e muito maior. Mas perceberam que forte mesmo era o que os dois tinham em comum, aquela sensação de paz e felicidade que só surgia quando estavam lado a lado, como dois seres que se confundiam em um único ser.
Os dois já estavam congelando ali fora, mas resolveram despir-se de uma vez e deitar naquele chão frio.
Aos risos, falavam sobre o comportamento do outro durante aquela conversa tensa, as caras e os olhares tolos que foram reproduzidos durante aquele momento, e a promessa de que aquilo jamais aconteceria novamente.
Os corpos se uniram, na pele a química, nas bocas o desejo, e nos olhares o amor, e aquele abraço deu início à longa noite que estava por vir.

sábado, 3 de março de 2012

Memórias póstumas de um coração qualquer

Me perdoe por todas as vezes que pareci desastrada ao derrubar tuas coisas no chão. A verdade é que todas as vezes foram de propósito.
Resolvi vir aqui pra te pedir desculpas por ter ido embora da sua casa de madrugada sem avisar, eu não estava com dor de cabeça, eu queria ficar só. E pela última vez que não retornei suas ligações, não é que eu não tenha visto, é que eu realmente não queria que você ouvisse minha voz. Aquela vez que te dei as costas enquanto via suas lágrimas, e depois resolvi voltar atrás, não fiz de coração. No dia que recebi suas flores, eu liguei pra agradecer, até disse que estava emocionada, tudo isso para não deixá-lo desapontado. Quando me pediu em namoro, o meu sim foi duvidoso. E quando ouvi o primeiro "eu te amo", respondi com um sorriso, pois a recíproca não era verdadeira. Aquele dia que chorei por você, foi por pura carência, as lágrimas não foram pra você e sim por medo. O livro que você me deu, é horrível, não consegui sair do terceiro capítulo, peguei um resumo na internet pra parecer que eu tinha lido. O perfume que trouxe pra mim me causa náuseas, só usei no dia do seu aniversário pra não ser deselegante, mas foi por conta disso que eu resolvi tomar banho e ir pra cama mais cedo. Os presentes que dei? É porque gosto de agradar.
Não sei se a resposta será: jamais.
Mas me desculpe se já cheguei mentindo e te fiz morrer por um amor, desiludido.

Apenas deixo

Deixo que o sorriso invada, e tome conta de mim como o sol, que irradia pelo céu, iluminando vidas e penetrando peles. 
Deixo que essa energia exploda como um vulcão em erupção que derrama lava queimando tudo que possa existir pela frente. 
Deixo que me admire quando eu quiser substituir meus olhares polissêmicos pela dança espontânea dos meus lábios desejosos. 
Deixo que ria de mim quando eu te der todos os risos que me constroem, até aquele de canto sem graça, com a testa franzida expondo as bobagens feitas por um jeito desajeitado. 
Deixo que saiba que estou fingindo um sonho, para que possa acariciar meu corpo sem limites transparecendo um cuidado que me preenche.
Deixo que faça do meu colo o teu travesseiro, para que eu seja seu conforto, para que eu possa acalmar tua mente como a protagonista dos seus sonhos serenos.
Deixo que se encante por minhas palavras, e me assista com atenção, como um telespectador atento que se encontra diante de sua cena favorita.
Deixo que seja meu cobertor naquelas noites tomadas por pingos de chuva que adentram as nossas janelas entreabertas e nos molha com prazer.
Deixo que tua íris fixe em minha alma, deixando-me nua, transparente e sua, como um livro aberto e complexo mas que pode ser totalmente interpretado.
Apenas deixo que se entregue ao que já está entregue, e que não negue o que já toma conta de nós, apenas deixo que sinta aquilo que me persegue e que ache linda toda essa imensidão que nos constrói.
Deixo que seja amor, e é.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Moro em uma cidade chamada Caos.

-Olá, tudo bem? Como vai?
-Eu? Não! Não vou bem mesmo..

Moro numa cidade mal cuidada, esburacada e maquiada. E agora que o verão chegou e o sol esquentou sinto informar que a maquiagem borrou. Vamos fingir que estamos bem pois precisamos do turismo e o pobre que vive na periferia que sofra com a violência e o racismo. Aqui só ponto turístico recebe proteção, porque quem comanda a gente no lugar do político honesto, é o político ladrão. Estamos em guerra do atual governo contra a oposição. Estão pensando que isso é só coisa de policial? E que a verdade é só isso que vemos no jornal? A verdade é que tudo gira ao redor do interesse da política nacional. Antes de assistir e punir, é melhor analisar e estudar, pra depois não ficar falando merda, pedindo pra ACM voltar. Vamos prestar mais atenção, pois estamos em ano de eleição! Vamos procurar informação e exigir nosso direito e nosso respeito de cidadão. O Nordeste já não é bem visto, pelo menos é o que na tv eu assisto. Enquanto estamos em guerra, a reportagem sobre um prédio incendiado em São Paulo impera. Então precisamos virar esse jogo, e mostrar pras pessoas que o soteropolitano não se resume a carnaval e nem a um prefeito cara de pau. Que aqui não tem só bunda grande e axé, que aqui também tem gente inteligente que sabe o que quer. Que aqui ninguém mais vota em João que Henriqueceu, e nem sente saudade do defunto que já morreu, aqui todo mundo luta, trabalha e se esforça pra no fim do mês garantir o que é de direito seu. A greve da PM é só um detalhe do que está por vir, isso eu posso presumir. É ano de eleição, acorda cabeção! Tá pensando que isso é só briga de polícia e ladrão? Quando o assunto é poder, por trás de todos os acontecimentos está a corrupção. E pra começar quem se deu mal foi Salvador, que engarrafou, João governou, pegou o dinheiro e viajou e o povo se ferrou!
Parabéns pra quem votou.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O que não sou, não quero que ninguém seja por mim.

"Marionetizar", eis o verbo... Existe?
Pois já odeio antes que se torne parte do meu ou de qualquer outro dicionário.
Tornar marionete.
Transformar as ações mais íntimas em algo coletivo e sinônimo de piada também pode ser caracterizado pelo adjetivo mais baixo entre os menos conhecidos.
O bom senso deve ser utilizado nas horas necessárias, nas horas que ele realmente se torna algo crucial.
Atitudes impensadas de um momento mal resolvido podem acabar pra sempre com atos pensados e bem resolvidos. As minhas atitudes são totalmente reflexo da minha vontade, aquilo que não exponho na verdade não faz parte de mim e sim das loucuras e dos devaneios da mente de um ser natural.
Odeio ser invadida.

sábado, 21 de janeiro de 2012

"Em fim sós"

Enquanto você passa, me olha e disfarça e fico sem graça
Então também finjo que não vejo, simulo um desprezo e te encho de desejo
Aí você me olha de longe, depois some e se esconde e eu não vejo pra onde
E bate um desespero só por não estar mais sentindo o teu cheiro
Mas a raiva me toma e eu sento em outra mesa e peço uma cerveja
Converso com o garçom, ele me indica um drinque bom e uma garrafa de Salton
A bebida me sobe e eu viro esnobe 
Troco olhares, números de celulares e bebo uma taça de Campari
Aí você reaparece, percebe o que acontece e logo enlouquece
Ninguém mandou brincar, com meu signo de água e ar e depois não aguentar
Mas eu deixo tudo de lado, porque a verdade é que por dentro desabo por teu jeito desajeitado
Então me encanto, decido e levanto, te chamo no canto
As mãos se entrelaçam, os beijos escapam e os corpos se amassam
Eu olho pra você, você olha pra mim e a noite parece não mais ter fim
Conversamos com graça sobre o que realmente se passa e deixamos de lado toda a pirraça
E então eu te digo que nada mais faz sentido quando você não está comigo e logo ganho o seu sorriso
Porque eu sei que a nossa química aconteceu desde a primeira vez que o meu olhar encontrou o olhar teu

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Todo mundo e o Mundo

Questionamentos polêmicos surgiram em minha mente esta madrugada durante sonhos que tive e perduraram por toda a manhã.
Tenho mania de analisar, principalmente as pessoas, seus gostos, suas ideias e tenho ânsia e curiosidade em saber o "por quê" de certas atitudes que são tomadas.
Hoje surgiu algo amplo em mim, ao me perguntar se o mundo em que eu vivo, é o mesmo em que vivem as outras pessoas que me cercam. 
Estudos dizem que uma parte de tudo o que vivemos, é influenciado por nosso subconsciente, e que a mente das pessoas pode transformar e moldar muitas situações, fazendo com que um mesmo lugar ou situação tenha diferentes significados para pessoas diferentes. 
Li e pesquisei, e cheguei a algumas conclusões iniciais.
Quando se trata de espaço físico, sim vivemos todos em um só lugar, porém a complexidade aumenta quando entramos no âmbito dos pensamentos alheios distintos, pois como sabemos "cada cabeça é um mundo", e assim o espaço torna-se diferente de acordo com os comportamentos exercidos sobre as situações, que são fruto dos ideais de cada um. Um exemplo bem simples e de fácil entendimento: uma cena composta por meninos de rua em uma sinaleira pedindo esmolas, será visualizada e interpretada de diferentes formas a depender da criação e dos ideais de cada um, alguns pensarão que são pobres coitados, outros pensarão que são marginais, outros terão medo, outros sentirão pena, outros ajudarão, outros dirão que são meninos explorados por mães preguiçosas, outros dirão que são vagabundos, outros acenderão um cigarro e outros apenas fecharão seus vidros e seguirão seus caminhos como se nada tivesse acontecido. Essas diferentes reações podem e devem ser compreendidas, pois todos possuem "raízes" diferentes, e assim cria-se o universo particular de cada um e passamos a viver em um mesmo mundo diferente.
O fato é que ao analisar as atitudes, por mais distintas que sejam, elas se interceptam em um ponto: o desejo de fuga.
O mundo não está de cabeça pra baixo, nós é que estamos de ponta cabeça, ou coisa assim. Os problemas existem, e estão cada vez mais escancarados, e quando não botamos a culpa destes em alguém, procuramos fuga, mas nunca tentamos solucionar nada, e assim a poeira é empurrada pra debaixo do tapete. Todo mundo está buscando formas pra fugir da realidade, uns vão consumir futilidades feito loucos em shoppings e transformam o seu visual para enfeitar o seu interior vazio, outros buscam experiências "transcendentais" e vão tomar chás de cogumelo e ingerir alucinógenos para ver coisas coloridas e positivas e acabam agindo como verdadeiros hipócritas com falsos ideais transformadores. O fato é que ninguém quer lutar por nada, pois os ideais egoístas e individualistas tomaram conta de todos, e enquanto a satisfação pessoal for alcançada, ótimo. Estamos mascarando o senso coletivo com pinturas da MAC ou com "becks", para uma pequena satisfação pessoal que se faz calmante no momento em que nos vemos fora de todos os problemas da realidade.
Não estou falando de coisas pequenas, e que as pessoas devem parar de consumir marcas ou de fazer uso de suas coisas ilícitas, isso é hipocrisia, e para mim é o radicalismo em relação a tudo que acaba por destruir o equilíbrio ideal. Aliás até esse equilíbrio ideal se difere de um ser para outro, porém ele poderia ter um pouco mais de semelhança se todos passassem a ter um senso coletivo, se tivéssemos a capacidade de olhar para o lado e ver que existem outras pessoas ocupando um espaço comum ao invés de enxergarmos um espelho.
Precisamos pensar que se os problemas foram dados é porque temos capacidade para solucioná-los, a questão é que precisamos de paciência, inteligência, senso de coletividade e perseverança, pois algumas soluções levarão dias e outras atravessarão gerações. O importante é não ficar sentado em frente a tv enquanto a vida acontece lá fora, pois a nossa falta de participação também é causa dos problemas que acontecem.
Abandonar a realidade é uma fuga momentânea e além de abandonar problemas acabamos por abandonar a verdadeira intensidade que dá um real sentido ás nossas vidas. Abandonamos a esperança, abandonamos um amor verdadeiro, damos as costas para uma felicidade plena que acreditamos não existir, deixamos de lado os valores da alma e assim seguimos em uma vida repleta de EGOísmo, sorrisos artificiais, riquezas vergonhosas e fumaças ilusórias.
Sejamos menos covardes.



sábado, 7 de janeiro de 2012

Vão, se vá.

Sei que não queria saber ao certo o que me afoba em certas horas dispensáveis. É que quando olho pro céu e me vejo rodeada por uma imensidão, esse conjunto que a minha visão alcança me faz refletir. Surgem assim as lembranças, e então o meu universo entra em conflito e deixo de saber que posso reparar as estrelas e começo a perceber apenas o tom escuro da noite. Quando essa sombra se faz, passo a não enxergar pedaços de mim que precisam de mais atenção. E nesta infinita tela escura e obscura vejo películas de um filme antigo que não são mais capazes de contar histórias, ou pelo menos de continuar a narrar os fatos interrompidos. Tento por um FIM ao final de cada um, para que eles possam parecer ao menos apresentáveis aos olhos de quem não os assistiu. O grande problema é que ainda tento por um fim em algo que já está danificado, ultrapassado e deixado de lado. Queria que fosse falta do que fazer, mas não é.
E essa noite ainda insiste, mas ela já não tem a menor graça pois já consigo compreender que basta um simples acordar para enxergar o brilho e a claridade de um novo dia.