terça-feira, 26 de julho de 2011

Liquidez

É deplorável e caótico avistar pensadores formadores de opinião baterem palmas para ditaduras que pregam um sistema seco e quadrado onde a falta de humanismo impera com arrogância e vaidade.
Não sei ainda se o incômodo se torna onipresente em função dos que pagam pelo show e assistem com louvor ou em função do silêncio sem eco e sem substância.
Prefiro, em uma visão otimista, ou romântica demais, achar que esse silêncio está visceralmente enraizado de reflexões úteis, críticas e prioritariamente individuais.
Para onde se vai alguém que acredita veemente que quem se relaciona com a Arte não trabalha? Que se relacionar com o processo criativo é sinônimo de desleixo e comodismo?
Alguém que menospreze de maneira ofensiva um desenvolvimento artístico impregnado de conteúdo? Para onde se vai esse alguém tão técnico que merece que todas as suas células ignorantes sofram apoptose? Talvez para algum espaço reservado no Paraíso comprado em uma dessas instituições religiosas milagrosas.
Penso eu, que o céLebro desses atrofiados realmente se desenvolveram pela metade. Aliás, não só penso, como comprovo devido ao escandaloso comportamento que se assemelha ao de um réu confesso.
É degradante, mas é real: Ainda vamos necessitar muito de pessoas necessitadas.
Diante disso saia desse ambiente, vá fumar um cigarro e coloque a poeira debaixo do tapete. Ou se perca, melhor dizendo, se encontre em seu "introspecto" deixando que seus próprios ideais se disseminem em seu corpo enérgico. 
Ou se descabele.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Dela, para Ele.

Olhares intensos, certeiros e cínicos.
Flechada.
Certamente.
Eu não sabia de nada, era o que você imaginava, mas eu já sentia tudo.
Imagino eu.
Hoje o passado se concretiza para que vire um futuro. Talvez.
E talvez você não saiba.
Mas já tem tempo...
Envolvida, apaixonada, debilitada e implodida. 
Você me deixa sem carne, sem aparência e me causa arrepios.
Você me faz água. Transparente.
E eu sou água.
E essa essência que sou, surge quando o meu Eu se encontra junto ao seu.
Saio de órbita quando a distância se aproxima e me faz questionar a veracidade dessa caminhada.
Eu sou o meu coração.
E você está impregnado nele.
A partir desse ponto, jamais desejarei a sua ida, nem muito menos suplicarei a sua volta.
Se quiseres saber o que eu espero, a resposta é nada.
E para o que eu sinto, a resposta é tudo.
Mas não quero que você vá, a não ser que você queira ir. 
E então terei um coração debelado.
Acho que encontrei em você, tudo aquilo que eu não procurava.
E Agora estou amando.
Que o veredicto seja o infinito.
"Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja Infinito enquanto dure."

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Devaneios de uma otária meio amadurecida

Um dia vivi uma certa ilusão. Dentre muitas outras que já me atormentaram, esta foi como uma flechada certeira que cravou em meu peito.
Meus olhos formavam uma piscina particular. Só ele poderia mergulhar e nadar naquele imenso azul que era só dele. Só ele poderia ser atingido por aqueles meus olhares, hora felina, hora menina. Só ele poderia enxergar o meu sol que circunscrevia minhas pupilas, que iluminava nossas manhãs e muitas noites.
No começo o tempo parecia ser um inimigo que nos enfeitiçava com um pó amargo chamado: saudade. Em muitos momentos tentei conversar com ele (o tempo), pedi para que ele parasse, mas ele não parou, pedi para que ele voltasse, mas ele não voltou, e então descobri que o relógio não falava e nem entendia a língua do homem, e que precisava respeitá-lo do jeito que ele era, certas vezes lento como uma lesma, e certas horas semelhante à velocidade de propagação da luz no vácuo. Mas sempre sábio.
Aquilo que tínhamos, era como um pacto irrevogável. Era inócuo, indelével, áureo e intocável. Pelo menos era o que achávamos.
Existiam curvas e caminhos que só nós dois poderíamos seguir juntos para que fossem desfrutados até o limite do esgotamento.
Depois surgiram separações desumanas. Elas trouxeram a chuva para dentro de casa e atormentaram o sono, o banho, os estudos e o resto dos dias que aturávamos com a ausência da outra metade.
As inúmeras viradas dos anos que antes traziam-nos paz, felicidade e prosperidade, começaram a nos trazer opostos.
A vida começou a parecer uma tela vazia, sem cor, e as tintas que começamos a usar eram de má qualidade e não eram à prova d’água, assim eram lavadas constantemente pelas tempestades freqüentes.
Decidimos então usar nossos próprios pincéis para colorirmos cada um a sua própria tela, à sua maneira.
Nossa tela já foi muito colorida, mas creio que hoje ela deva ser posta em um museu, talvez na sala principal, e ser cuidada como a Monalisa de Da Vinci, para que nós possamos fazer curtas viagens pelas lembranças especiais que estão impregnadas em cada traço.
Então, concluo dizendo que é possível que a nossa obra-de-arte já tenha sido finalizada e transformada em um patrimônio memorável. Sei que ela pode pedir um retoque um dia, mas hoje nossas tintas tem tons diferentes e a falta de harmonia entre as cores fere o artista.
A tela ficará pendurada, talvez pra sempre, mas quem sabe um dia a gente aprenda a esculpir?
Afinal, quando desacerto os ponteiros do meu relógio, ainda sinto a sua falta.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Clarice Lispector

"Não me prendo a nada que me defina. sou companhia, mas posso ser solidão. tranqüilidade e inconstância, pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. Música alta e silêncio. Serei o que você quiser, mas só quando eu quiser. Não me limito, não sou cruel comigo! Serei sempre apego pelo que vale a pena e desapego pelo que não quer valer… Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato. Ou toca, ou não toca."


Vazio Absurdo

A carência é infiel.
O excesso de carência é fatal.

Aperta, dói e desespera. O 'um' sozinho ja não basta, é preciso mais! É preciso de 'um' a cada tempo, a cada minuto para tentar encher o saco sem fundo.
Promessas de amor eterno a todo instante, frases soltas a qualquer ouvido que esteja disponível, beijos e carícias trocadas por nada, apenas para não parecer um saco vazio, furado.

Aí vem a síndrome 'Dona Flor': amo mais de uma pessoa ao mesmo tempo, quero dois maridos!
Acorde, você nem se ama.

Compromissos a todo momento, que para não deixar a mente vazia, ou melhor, o coração angustiado tomado pela insegurança!

Aí vem a síndrome do 'esperto' que na verdade é o Medo de ser feito de bobo. 
Bobo, bobo, bobo. Inseguro que dá dó.

Quem disse que a cabeça fica no lugar? Quem disse que a razão tem vez e voz?

A carência faz chover...

No final, a coisa tá feita e escancarada. A carência apavora, traz à tona o medo da solidão. Traz a solidão. Traz o só. Te deixa mais só.
Aliás, que alívio seria se fosse mesmo o final!

O 'um' se encontra com o outro 'um', que se encontra com o outro e com o outro... E no final 1+1+1+1+1+1= 0
E você não é mais Dona Flor e nem o Esperto! Longe disso, bem longe...

E olhe SÓ, você SÓ denovo. 

Nem adianta esperar o sono, porque ele não vai fazer a dor passar, nem a consciência pesar menos.
Todos os 'uns' já sabem de tudo, e o pior: Você também sabe de tudo que fez.
Que lindo!

Como manda a Física, para toda ação há uma reação. Mas se tratando de uma 'matéria' que não é exata... Para cada ação há tantas reações... E todas vão fazer questão de aparecer.

Mágoa para todos os 'uns' e para si mesmo. Todos os 'uns' somem e você também quer sumir.

Errou, errou, errou...
Mentiu, menti,mentiu...
Machucou, machucou, machucou... muita gente.

Infiel a todos e a si.

Nada valeu à pena e a alma foi pequena.

sábado, 2 de julho de 2011

C'est fini

A forte tempestade que caía lá fora não incomodava tanto.
Os pingos fortes que machucavam a madeira da varanda não causavam tantos danos.
A água que descia de maneira ríspida e imbassava todas as janelas tirando parcialmente nossa visão, não era tão ruim assim.
Mas as goteiras e os ventos que sopravam dentro de casa simultaneamente resultando em uma tempestade impiedosa e amarga, produzindo uma atmosfera agoniante, isso sim causava inquietude.
A fumaça cinzenta que já não era mais tão insuportável tomava conta dos ares interiores.
-Ares acinzentados não me perecem interessantes, nem calmantes. Podem até ser reflexivos, mas no momento só eram nervosismo-
Nem as folhas calmantes em um bule de chá faziam efeito.
Todos os jarros e castiçais foram ao chão.
As portas se renderam aos encantos do tenebroso chão, e se deitaram bruscamente.
Todas as almofadas colidiram com as paredes liberando penas, e mais penas, e mais e mais penas artificiais.
O lustre, mesmo preso com tantos reforços, decidiu estapear a mesa que estava logo abaixo.
As cortinas não aguentaram e sairam voando.
Os pratos e copos foram rolando em fuga pela porta, antes que sobrasse pra eles também.
Até os cachorros pularam o portão.
Chovia, chovia muito. Mais dentro que fora.
Não sobrou nada.
Dessa vez, estava tudo acabado.