quarta-feira, 2 de maio de 2012

A sala

Normalmente todos a chamam de sala de estar, eu a xingo de sala do mal-estar. Se na varanda me sinto livre para realizar os meus desejos mais vorazes, nesta me sinto perturbada, insegura, invadida, fraca e inconsequente. Talvez inválida até. A sala me causa angústias, dúvidas e me traz perguntas que muitas vezes fogem ao meu conhecimento. A sala devora a minha energia e arranca o meu chão fazendo com que eu me sinta como um animal perdido em uma triste solidão. Na sala sou forçada a ser só, e da maneira mais dolorosa e fria. Em um espelho, não consigo ver nem o meu reflexo, não vejo nada, pois a sala é vazia. O coração clama por um calor, mas a emoção foge, o peito explode e a mente se perde em devaneios e surtos de loucuras malvadas e sombrias. A sala desperta a vontade de chorar, de desabar e de ter alguém pra te levantar, mas na sala não tem ninguém. Na sala você sente a necessidade de um abraço, e enxerga a sua memória como um filme triste diante dos seus olhos, com a seleção das piores cenas dos capítulos da vida. Ou pior, da sua vida. Na sala você encolhe, você é sugado e humilhado. Lá, as palavras que mais te ferem estão separadas em frases soltas que te atingirão de maneira certeira, como uma flecha que crava no coração e faz sangrar.
Todos vão até a sala, o caminho é fácil, o difícil é sair dela mesmo que a porta esteja aberta.

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