quarta-feira, 6 de julho de 2011

Devaneios de uma otária meio amadurecida

Um dia vivi uma certa ilusão. Dentre muitas outras que já me atormentaram, esta foi como uma flechada certeira que cravou em meu peito.
Meus olhos formavam uma piscina particular. Só ele poderia mergulhar e nadar naquele imenso azul que era só dele. Só ele poderia ser atingido por aqueles meus olhares, hora felina, hora menina. Só ele poderia enxergar o meu sol que circunscrevia minhas pupilas, que iluminava nossas manhãs e muitas noites.
No começo o tempo parecia ser um inimigo que nos enfeitiçava com um pó amargo chamado: saudade. Em muitos momentos tentei conversar com ele (o tempo), pedi para que ele parasse, mas ele não parou, pedi para que ele voltasse, mas ele não voltou, e então descobri que o relógio não falava e nem entendia a língua do homem, e que precisava respeitá-lo do jeito que ele era, certas vezes lento como uma lesma, e certas horas semelhante à velocidade de propagação da luz no vácuo. Mas sempre sábio.
Aquilo que tínhamos, era como um pacto irrevogável. Era inócuo, indelével, áureo e intocável. Pelo menos era o que achávamos.
Existiam curvas e caminhos que só nós dois poderíamos seguir juntos para que fossem desfrutados até o limite do esgotamento.
Depois surgiram separações desumanas. Elas trouxeram a chuva para dentro de casa e atormentaram o sono, o banho, os estudos e o resto dos dias que aturávamos com a ausência da outra metade.
As inúmeras viradas dos anos que antes traziam-nos paz, felicidade e prosperidade, começaram a nos trazer opostos.
A vida começou a parecer uma tela vazia, sem cor, e as tintas que começamos a usar eram de má qualidade e não eram à prova d’água, assim eram lavadas constantemente pelas tempestades freqüentes.
Decidimos então usar nossos próprios pincéis para colorirmos cada um a sua própria tela, à sua maneira.
Nossa tela já foi muito colorida, mas creio que hoje ela deva ser posta em um museu, talvez na sala principal, e ser cuidada como a Monalisa de Da Vinci, para que nós possamos fazer curtas viagens pelas lembranças especiais que estão impregnadas em cada traço.
Então, concluo dizendo que é possível que a nossa obra-de-arte já tenha sido finalizada e transformada em um patrimônio memorável. Sei que ela pode pedir um retoque um dia, mas hoje nossas tintas tem tons diferentes e a falta de harmonia entre as cores fere o artista.
A tela ficará pendurada, talvez pra sempre, mas quem sabe um dia a gente aprenda a esculpir?
Afinal, quando desacerto os ponteiros do meu relógio, ainda sinto a sua falta.

3 comentários:

  1. Parabéns Roberta, seus textos estão cada vez melhores!É muito legal quando conseguimos atrelar experiências pessoais em trechos tão poéticos. Isso faz valorizar-mos a sensibilidade, e acreditar nos sentimentos alheios. Continue voando alto que o céu não é limite para você. Tudo de melhor nessa vida!

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  2. Muito muito muito bom! me tocou profundamente =) agora sou seguidora do seu blog! =)

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